quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Este País não é para velhos

Mais do que o título de um filme premiado pela Academia de Hollywood, é o retrato real de um pedaço de terra entalado entre Espanha e o Oceano Atlântico.
Outros que não os nossos, debitam bitaites e gerem a vida cada vez mais madrasta dos nativos e que lutam diariamente contra medidas aplicadas por quem não tem a ideia do que é fazer contas à vida.
Este fim de semana, num passeio a Almeida, localidade do interior beirão que sofreu durante séculos os ataques das tropas estrangeiras que quiseram ocupar o território nacional, ouvi a um historiador que relatava os eventos do Cerco de Almeida durante as invasões francesas a seguinte frase que 200 anos depois se mantém extremamente actual:
"Os portugueses, com menos posses que os invasores, sem aliados confiáveis resistiram estoicamente aos mais variados ataques que lhe foram lançados pelas tropas antagonistas. Mesmo após a ordem de rendição do seu chefe máximo, os militares e milícias portugueses, preferiram ignorar e continuar a rechaçar as investidas.
Os portugueses viveram neste misto de dúvida sobre o que queriam, mas sabiam bem o que não queriam!"

 Hoje, fui aos Correios de Portugal (CTT) pagar as custas dessa maravilha das SCUT, que ao contrário do que o nome indica têm custos para o utilizador.
Enquanto esperei na fila (porque empresa ou serviço público sem fila, não é serviço público), reparei num senhor que conheço desde que era pequeno.
O homem, vergado por 40 anos de trabalho duro, responsável, honesto, perigoso para ele e muitas vezes para a vida de outros, estava sentado num banquinho com a cabeça entre as mãos e olhava os mosaicos do chão, enquanto uma única funcionária atendia os mais de 20 clientes que enchiam a demasiado pequena estação.
Lembro-me do meu pai me dizer que aquele homem que ali estava, tinha estado ao serviço da Pátria durante 2 anos na Guiné. Que tinha passado muito enquanto combateu e que até quando a mãe falecera, fora impedido de regressar a Portugal para assistir ao funeral.
Lembro-me daquele mesmo homem que agora ali via cabisbaixo, descer a rua até à maré para nos contar estórias das suas viagens, da sua vida, cumprimentar o seu interlocutor com cordialidade e respeito.
Enquanto estava absorto nestes pensamentos, chegou a minha vez. A funcionária, chama-me ao balcão. Digo o que quero pagar e puxo do cartão multibanco.
"Desculpe, mas não temos Multibanco."- diz a senhora.
"Não tem? Porquê?" - pergunto eu, num misto de espanto e contestação.
"Sabe que segundo um estudo dos CTT, enquanto marcamos o valor, o senhor marca o código e nós lhe damos os recibos, podemos atender mais 3 clientes." - responde a funcionária.
Saio da estação, agastado com aquilo. "3 clientes?" continua a resposta a ecoar na minha cabeça. Não importa para a besta dos CTT que realizou os estudos que a caixa de levantamento fique a 1km da estação, porque as mais perto foram instaladas em estabelecimentos comerciais que encerraram para férias. Não importa o cliente. Importa sim os 3 clientes que podem estar 30 ou mais minutos na fila para pagar com cartão multibanco e que depois saiem da estação para voltar depois para mais 30 ou mais minutos de fila.

Voltei. Com dinheiro fresquinho a estalar no bolso das calças.
O homem ainda está sentado no banquinho.
Na cabeça da fila estão 7 pessoas de etnia cigana que entre palavreado barato, barafustam alto e bom som com a única funcionária, como se esta tivesse culpa do atraso na chegada do dinheiro.
Tenho 5 pessoas à minha frente. Passam a 4 e o 3 percebe que afinal multibanco é artigo de luxo.
Faltam apenas 2.
Chega o saco do dinheiro.
Instala-se o nervoso na representação gitana. Tomam a dianteira da fila e quem estava há mais tempo, é ultrapassado e olhado de soslaio.
A média recebida por cada uma das 7 foi de 480€. Gentilmente ofertado com os cumprimentos do Estado Social Português ao abrigo do Rendimento Social de Inserção (Rendimento Mínimo).
O homem que conheço, levanta-se e avança devagar para o balcão.
Estende um papel que retirara do bolso juntamente com o bilhete de identidade.
A funcionária, conta nota por nota, estende-lhas e diz com um sorriso:
"255. Prontos, aqui tem a sua reformazinha, sr. Manuel! Confira e até para o mês que vem."

O senhor Manuel, olha para mim e para os restantes clientes na fila e diz:
"Este país não é para velhos..."

terça-feira, 22 de março de 2011

Estórias ao Vivo

Queres ouvir uma Estória do Branco?


O ideal é enviares um e-mail para migbranco@gmail.com, garanto que respondo ao teu contacto.


Para estórias ao vivo, peço-te que incluas o máximo de informação possível (data, local, duração, tipo de evento, etc.).



É que assim o meu manager pode dar-te logo uma ideia bem aproximada do que se pode fazer, como se pode fazer e quanto te custa ouvir-me.


É que há toda uma máquina logística para se pôr a funcionar, por isso, quanto maior a antecedência melhor.


*Nota: O manager e a máquina logística foram zipados numa só pessoa. Eu.

É que assim, fica tudo certinho com o próprio e não há o diz-que-disse.




E-mail Comédia a2: standupcomedy@sapo.pt


Telefone: 96 275 95 31